O ESQUERDISTA MÉDIO

Eu acompanho este blog desde muito tempo, concordo com a maioria das coisas que ele diz. Tenho até coisa dele por aqui. Mas eu vou dar meu pitaco aqui.
Antes eu gostaria de estabelecer a seguinte convenção:
1- O que eu vou dizer aqui é simplesmente minha singela opinião.
2- O texto do Gravata é de humor, o meu é de tentativa de humor.
3- Meus comentários estão em itálico.
4- “DM” não significa Diogo Mainardi e sim direitista médio.
5- Quando eu não comento nada, quer dizer que a princípio concordo com o autor,
Este é o texto:
Brasileiros adoram falar (mal) da figura mitológica denominada "americano médio". Ele seria um ignorante, racista, truculento, manipulado por corporações midiáticas e, claro, um ardoroso comedor de asinhas de frango e telespectador do Super Bowl.
(Estereótipos são estereótipos, se bem que ATÉ HOJE a maioria dos americanos acredita que foram os iraquianos que destruíram o World Trade Center...)
Isso é uma bobagem, sem dúvida; principalmente porque, comparando tal mito com a REALIDADE do "brasileiro médio", temos que o correspondente norte-americano tem algumas vantagens, tais como: alfabetização, saúde, melhor expectativa de vida e, claro, a possibilidade de comer asinhas de frango vendo o Super Bowl.
(Comparar americanos com brasileiros é a prova que americanos não são ignorantes? É bem verdade que para ele o brasileiro médio é analfabeto, mas querer comparar laranja com pêra. Aliás, vou abrir espaço aqui no blog para elogiar os americanos, os caras colocaram um homem na Lua enquanto aqui nosso maior orgulho é ter vencido cinco vezes um torneio de futebol. Enquanto o candidato que vai concorrer nas eleições presidenciais americanas é escolhido em várias eleição com a participação de milhões de pessoas, aqui isto é decido em jantares para quatro. Até em matéria de maldade a nossa elite perde para a deles, enquanto a nossa se contenta em manter o próprio povo ignorante e com fome a de lá promove GUERRAS).
Mas vamos aproveitar a sacanagem subintelectual para criar um novo mito: o "Esquerdista Médio" (doravante denominado "EM").
Ele reúne todos os vícios engraçadíssimos que fazem de boa parte da esquerda brasileira objeto de anedotas de salão pelo mundo todo, rivalizando com o português da padaria e o papagaio fanho.
(Eu juro que nunca vi uma pessoa que faz uma piada de esquerdista e logo em seguida não demonstrar que é mais chato ou estúpido que o indivíduo descrito na piada. Deve ser questão de gosto).
O "EM" é petista, claro - Aula rápida de lógica filosófica: "nem todo brinquedo é uma bola; toda bola é um brinquedo"; ou seja, não vejam generalização em assertiva que não a contém. Releiam a primeira frase do parágrafo, que será repetida no seguinte, até compreenderem do que se trata.
Voltando: o "EM" é petista. Ele nem sempre é filiado, mas, mesmo quando tem carteirinha, não contribui financeiramente com o partido. Porque uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. Quando exerce algum cargo em comissão ou recebe salário polpudo de uma fundação petista, às vezes dá uns "cem merréis" para organizar alguma palestra. E olhe lá.
(É verdade, tem muito bicão no PT mesmo, gente que nunca devia ter entrado lá. Mas o partido tem 1milhão de filiados e mais dezenas de milhões de eleitores, então querer transformar em esquerdista médio alguém que tem cargo em comissão ou recebe salário de fundação petista é no mínimo demonstrar ignorância em conceitos básicos de estatística).
Ele é favorável ao patrocínio estatal dos meios de comunicação menos privilegiados. Mas isso só vale para os veículos petistas. Quando descobriram que a Nossa Caixa anunciava na Primeira Leitura, acharam um absurdo. Mas não vêem problema algum na Prefeitura de Qüiproquó do Oeste, sob gestão petista, anunciar na Caros Amigos.
(Alguma coisa de absurdo deve haver em uma publicação de defende o estado mínimo receber dinheiro do governo, não sei. Não que não seja esquisito uma prefeitura dar dinheiro para uma revista ao invés de dar para comprar remédios em postos de saúde ou pagar melhores escolas e professares).
Porque uma coisa é uma coisa, e outra coisa é outra coisa. E o "princípio da desidentidade" vale para qualquer conceito que dê suporte à "lógica" do "EM".
No plano internacional, ele tem opiniões contundentes, todas elas embasadas em documentos irrefutáveis, quais sejam: textos do Emir Sader (ou algo com o mesmo valor científico).
(O Talkshit do Olavo e o Mídia sem Máscara é que tem valor científico...).
Ele é pró-Cuba, embora se defina contra toda e qualquer ditadura. Sua predileção pelo genocídio de Fidel é explicado por N razões, mas basicamente são perdoadas as ditaduras que empunhem bandeiras com as cores adequadas. O detalhe da garantia do direito à vida não costuma ser levado em consideração.
(O que acontece em Cuba é horrível, mas o pobre “DM” sofre tanto pelo que acontece lá mas não se importa pelas torturas, estupros e execuções que acontecem por aqui...)
Para o "EM", Hitler e Mussolini servem para exemplificar casos de extremismo da direita, mesmo tendo ambos dirigido governos com gigantismo estatal, ingerência governamental sobre o mercado, e outros detalhes tão pequenos de nós dois que estão em toda e qualquer cartilha socialista.
(Ontem o governo americano resolveu jogar 200 bilhões de dólares no mercado para conter a crise do setor imobiliário. Ah, esses comunistas...).
Foram tão fiéis ao socialismo que até incluíram a parte dos massacres, cada qual à sua maneira.
Mas o mesmo "EM" que imputa "direitismo" a governos atrozes não aceita que Stálin ou Pol Pot sejam chamados de esquerdistas, nem mesmo de socialistas. Nada disso! Suas "gestões" (e aqui a palavra ganha o mesmo sentido administrativo daquele de Gêngis Khan) perverteram os verdadeiros valores humanitários do que seria o socialismo.
Muitas vezes, na sanha de defender seus pontos indefensáveis, eles ultrapassam os já muito elásticos limites do ridículo. Outro dia, (e isso não é mentira!), um "EM" disse para mim que Stálin não era stalinista. Tudo que consegui dizer foi: "até que ele fingia bem, né?".
(E eu que já ouvi mais de uma vez que a ditadura militar brasileira era de esquerda?).
Um "bom debate", para o "EM", é aquele em que todos concordam e, claro, a concordância seja sobre algo apoiado por seu ideário. No mais, toda opinião contrária é: a) burra; b) alienada; c) imperialista; d) vendida; ou e) cara de cuíca (na opção de faltar algum argumento).
(a-COMUNISTA! b- COMUNISTA! COMUNISTA! COMUNISTAAAAAAAAAA!!! c- petralha, petralha, humpf! d- Au!au! au! Auauau! e- som de baba)
Ele aceita opiniões contrárias, desde que não sejam emitidas.
(Antigamente, por obra do “DM”, a pessoa perdia o emprego, era presa, tortura ou morta. Faz tem isto não acontece, mas por obra da luta do “EM” do que uma concessão do “DM”. Se aceitar opiniões é acatá-las sem crítica, só lamento...).
A percepção da realidade é uma coisa prejudicada para o "EM". Ele acredita, por exemplo, que Chávez seja um democrata. Ao mesmo tempo, afirma com veemência que o Mensalão nunca existiu. E para isso usa teorias brilhantes, que em geral refutam um crime simplesmente mudando sua tipificação no Código Penal.
(Chávez está no poder e continua lá pelo voto do povo venezuelano, o “DM” vai ter que se conformar. Quem tem que mostrar algum sentimento democrático é a oposição venezuelana. Aliás, quando em abril de 2002 houve um golpe contra a democracia venezuelana, o “DM” tão cioso da democracia em Cuba e no Brasil aplaudiu...)
Algo como quando alguém nos corrige dizendo que não se diz "assassinato", mas sim "homicídio"; ou quando dizem que um homicídio não foi "qualificado", mas "apenas doloso".
Uma vez um "EM" me falou que não poderia haver Mensalão e usou como "atenuante" o fato de João Paulo Cunha ter sacado uma fortuna num banco. Em seguida, como num golpe argumentativo de misericórdia, disparou: - Viu? Como é que vai ser o crime X, se aqui vemos o crime Y?
(Aí é que está, o José Dirceu e mais um monte de gente está sendo julgada no STF pelo “mensalão”, enquanto isso a venda de votos para aprovação da emenda da reeleição, pra ficar só nesse escândalo, não pôde sequer ser INVESTIGADA. Parece que o Brasil só funciona como uma república quando o PT está no poder. E o “DM” acha isso normal, vai entender...).
A preocupação é mais com a semântica do que com a ética. E não deixa de ser curioso que essa inquietação lingüística parta de quem não conheça os rudimentos do Português.
O "EM" critica a gestão de FHC pelo fato de ter sido neoliberal e também pela aliança com o PFL. Mas apóia Lula, mesmo diante da manutenção da mesmíssima política neoliberal, inclusive indo além e taxando os inativos. Sem contar alianças como as que o governo atual firmou com reservas morais como Sarney, Collor e Maluf.
(Infelizmente é verdade, e o “DM” vive jogando isso na cara do “EM”. Mas no fundo é só dor-de-corno...).
PFL, não; Maluf, sim. FHC era um "vendido"; Lula apenas usa os mecanismos necessários para a governabilidade. Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.
O "EM", vocês devem saber, não trabalha. Talvez seu ócio sirva como forma de se sentir isento o bastante para defender a classe trabalhadora. Ninguém pode chamá-lo de "corporativista", já que ele supostamente fala em favor de uma categoria da qual não faz parte.
(Um milhão de filiados, uns 40 milhões de eleitores... é uma quantidade meio grande de vagabundos...).
Nas universidades, o "EM" nem chega a entrar na sala de aula (a não ser para divulgar os preços de uma festa ou a venda de camisetas do MST). Tão-logo faz a matrícula, vai para o Centro Acadêmico e lá permanece incubado durante todo o curso - alguns ficam por trinta anos, tamanha a vontade de "trabalhar" pelos outros.
Há representantes estudantis, do gênero "EM", que têm por volta de sessenta anos e já se matricularam em cinco faculdades, cada qual em um curso, quase sempre "jubilando" ou permanecendo tempo suficiente antes de perder a vaga.
Esse tipo de "EM" muitas vezes é filiado ao PCdoB, mas no fim das contas são todos petistas, já que o partido de Aldo Rebelo é uma espécie de braço - ou unha, como queiram... - do PT.
(É tudo verdade, eu nunca conheci um dirigente estudantil que não coubesse nesse estereótipo. Mas também é verdade que quase nunca o “DM” conseguiu montar uma chapa que desbancasse um personagem tão tosco quanto o descrito aqui. Ou por pura incompetência ou por burrice ideológica mesmo).
Os "EM, quando são admitidos em uma empresa, em geral se comportam de maneira parecida com a de seus colegas "estudantes". Se os de lá não estudam, os de cá não trabalham. Logo após o exame médico admissional, correm para o sindicato e se alojam ali durante vários anos (o padrão é o de seis a dez copas do mundo).
Sei de um "EM", por exemplo, que é sindicalista desde quando o Piazza estava na escalação de João Saldanha. E ele inclusive tem na memória todas as escalações da seleção canarinho, muito embora já tenha se esquecido das tarefas dos trabalhadores que representa na condição de "subsecretário adjunto institucional".
(Pela lei dos grandes números, boa parte do “EM” deveria ser conforme o descrito acima, seriamos país com menor número de acidentes de trabalho no mundo, ou pelo menos com o maior número sipeiros do mundo...).
Como todo bom idiota, ele é dogmático; não tem convicções, mas sim fé cega. Seu partido de coração não comete erros, seus aliados não cometem erros, seus amigos não cometem erros. Nem os amigos dos amigos. "Crimes", então, nem pensar. Sacrilégio! Blasfêmia!
Quando surge alguma notícia negativa a respeito da legenda na qual deposita sua fé, o "EM" imediatamente considera uma manobra da mídia golpista. Essa mídia, aliás, até anteontem empregava justamente os que hoje a acusam de não ser o que é (ou de ser o que não é...).
(Não é que a imprensa é golpista, apesar de às vezes inventar notícias, o problema é que ela aparentemente só funciona quando o PT está no governo).
No fim das contas, o "EM" desfia um rosário de ofensas ao imperialismo dos EUA, em especial ao americano médio que devora asinhas de frango enquanto vê o Super Bowl.
(“EM” faz muito bem. Nenhum imperialismo é bom).
E faz isso tomando cerveja e vendo algum jogo de futebol na TV do boteco. Porque uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.
Delícia!
Como eu disse, estereótipos são estereótipos, e eles não nascem à toa. Não tem nada que o Gravata tenha dito que eu ache que seja mentira. Só não concordo com a generalização pelos motivos que eu escrevi acima. Se a imensa maioria (uns 99,99%) das pessoas que são filiadas ao PT ou que votaram no PT não tem cargo comissionado, recebem dinheiro do PT, pertencem a um sindicato, ao movimento estudantil ou mesmo fazem parte da SIPA. É claro que é uma generalização.
O “EM” apanhava da polícia durante a ditadura, lutou pelas diretas. Onde estavam os “DM” naquela época? O que dizem hoje sobre o bolsa-família? O que fizeram para corrigir a desigualdade social do país?
Todo mundo reclama do clima de “Fla x Flu” que existe atualmente, e estas generalizações são parte disto. Mas existe um mundo real fora dos blogs. Quem faz parte deste mundo deve morrer de dar risada desta palhaçada.
PS. Este texto foi uma tentativa de humor, mas quem quiser rir um pouco, pode ir aqui ou aqui.
PS2. Tem um texto bem legal sobre a inglória luta da direita contra a esquerda.
PS3. Gravata não é “DM”.
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